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contracultura

16 / Fevereiro / 2007
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Tenho simpatia pela crítica, não obstante a aparente aversão que tal palavra causa. A crítica (pense nela como um ente despersonalizado, para poupar a pessoa que critica) logo lembra desaprovação, confrontação, discordância, nada que seja muito animador em comparação à paz, ao não-questionamento. A crítica pode ser vista então de uma forma muito ríspida, antipática, daí a necessidade de adicionarmos um pouco de humor, eis o cinismo.
Nick Naylor (Aaron Eckhart) sabe que ele não é bem visto. Há algumas décadas a questão da saúde ganha bastante espaço nos holofotes. Desde que os ideais de “vida saudável” foram tomados com obstinação somos advertidos dos perigos de vários produtos e costumes e convidados a adotar outras posturas. Longe de qualquer comparação o cigarro é um grande vilão nessa batalha. Há campanhas em todo o mundo restringindo o seu consumo, a sua propaganda, e parece que ninguém seria capaz de defendê-lo. Nick Naylor pode. Ele é um empregado da Companhia do Tabaco, um mega-conglomerado que é alimentado pela venda do tão famigerado produto.
Obrigado por fumar explora a situação inusitada confrontando o o corajoso defensor com os seus habituais inimigos: um Senador aficcionado pela campanha anti-tabagista, os jornalistas sedentos por matérias e os confrontos morais característicos da situação. Algum problema? Não! E é aí que o filme se diferencia.
Seria muito simples se Naylor passasse “para o outro lado”, dando uma lição de moral para o seu filho e para a sociedade. lindo. Podia acontecer também de ele ter um cancer, e virar mote para uma propaganda anti-fumo. Naylor sabe o que faz, usando o seu cinismo e retórica para falar o que quiser com coerência e convicção. Ele pode jogar dos dois lados, e a sua liberdade de escolha é a real mensagem1.

Obrigado por fumar (Thank you for smoking)
Estados Unidos, 2005
Direção: Jason Reitman
Duração: 92 min

1 – Não gosto de ditar qual seria a “vontade” do filme, pois penso que isso cabe ao expectador. Não entendam tal apontamento como uma posição inflexível. É só um vício…