Archive for Fevereiro, 2007

Oscar 2007

26 / Fevereiro / 2007
Oscar, 07



Não há como negar o Oscar. Críticas existem sobre a sua natureza e fundamento, mas a sua história e tradição também deve ser considerada. Aí vão alguns apontamentos sobre o show deste ano:

00:25 – Não há como discutir o porquê do oscar, vez que este é uma eleição. Falemos então da transmissão da Globo. Feliz foi a troca do comentarista: Sai o Ewald Filho, um exibicionista com seus comentários dispensáveis e sua voz irritante, e entra José Wilker, um indivíduo que gosta de cinema e, aparentemente, dedica um tempo para alimentar a sua paixão.
Tenho muita mais simpatia pelo conhecimento do Wilker por ele se apresentar como um interessado afim de discutir cinema. Os seus apontamentos não são necessariamente os mais corretos, mas caem mais suavemente.

00:31 – Filme Alemão no Oscar! Das Leben den Anderen ganha o prêmio de melhor filme estrangeiro. Sempre é hora de comemorar uma vitória dos germanos.

00:37 – Notas para as gerações futuras: Os discursos deviam ser reduzidos a ums 5 ou 7 segundos para poupar-nos

00:49 – O Oscar segue o politicamente correto ao dar o oscar para Al Gore. Essa tendencia era mais que esperada. Quem poderia se opor ao discurso do documentário e negar a destruição iminente da natureza? É uma questão de sanidade.

00:51 – Abençoado seja. Eastwood sobe ao palco e cita Morriconi. Não podia ser melhor. Já destaquei a importância destes dois personagens em Por uns Dólares a mais e Os Imperdoáveis.

01:11 – A tradutora da Globo tem um trabalho duro. Esse ano ela está rapidíssima, quase em sincronia com o som original! Isso reduz um pouco a agonia do processo de dublagem, já que não podemos ouvir os apresentadores.

01:15 – Coisa interessante foi a forma como alguns prêmios foram a presentados. Os prêmios de roteiro (adaptado e original) apresentaram os seus candidatos com uma deliciosa leitura do texto dos indicados. Essa apresentação engrandeçe a importância da arte de escrever, a qual pouco aparece no produto final. Palmas para a Academia.

01:31 – Se Dreamgirls for tão bom quanto as músicas eu quero distância… Ainda bem que aquelas três gritarias perderam para a música do filme do Al Gore. Não que a ganhadora seja boa, importante salientar isso…

01:35 – Mais pontos para Wilker. Ele defendeu a direção de Eastwood contra a de Scorsese. Também acho que o Oscar por piedade deve ser o honorífico. O do concurso deve ser merecido por excelência. Espero que os que votaram pensaram da mesma maneira.

01:39 – Don Corleone aparece na tela. Grande Marlon Brando…

01:57 – Que categoria de Helen Mirren. Dá uma boa prévia do potencial do filme.

02:09 – Droga! A piedade ganhou… Scorcese fura o olho de Eastwood.

02:15 – Seguindo a tradição ganhou o filme dirigido pelo diretor vencedor. Ótimos apontamentos do Wilker sobre a questão da piedade.. Dane-se a piedade. Isso é uma competição, não um trabalho de caridade!

Pois bem. Acabou… Agora é só assistir aos filmes e tirar as suas conclusões sobre o merecimento de cada obra.

19 / Fevereiro / 2007

Já havia dito que alguns filmes marcam a experiência do espctador. Dentre esses há um especial: o primeiro. Baseado nesta idéia Jake Paltrow (sim, você conhece esse sobrenome. sua irmã é a Gwyneth Paltrow) produziu um breve e interessante documentário onde 8 atores falam sobre esta experiência. Atenção para os “8 atores”, já que alguns deles podem carregar uma estatueta no próximo domingo: Hellen Mirren, Leonardo Dicaprio, Ken Watanabe, Penelope Cruz, Abbie Cornish, Cate Blanchett e Brad Pitt.
Fora o interessante tema o diretor acrescentou algo mais à sua obra. Nos 9 minutos do filme vemos momentos de saborosa sinceridade quando Dicaprio narra o seu choque ao ver King Kong desfalecer, ou ainda Brad Pitt confessando ter chorado com o igualmente trágico Butch Cassidy and the Sundance Kid.
A uma semana do Oscar foi uma feliz e idéia para celebrar a sétima arte. Clique no link abaixo para assistir ao documentário.

Sessão Obrigatória:

The First Ones

contracultura

16 / Fevereiro / 2007
°°°

Tenho simpatia pela crítica, não obstante a aparente aversão que tal palavra causa. A crítica (pense nela como um ente despersonalizado, para poupar a pessoa que critica) logo lembra desaprovação, confrontação, discordância, nada que seja muito animador em comparação à paz, ao não-questionamento. A crítica pode ser vista então de uma forma muito ríspida, antipática, daí a necessidade de adicionarmos um pouco de humor, eis o cinismo.
Nick Naylor (Aaron Eckhart) sabe que ele não é bem visto. Há algumas décadas a questão da saúde ganha bastante espaço nos holofotes. Desde que os ideais de “vida saudável” foram tomados com obstinação somos advertidos dos perigos de vários produtos e costumes e convidados a adotar outras posturas. Longe de qualquer comparação o cigarro é um grande vilão nessa batalha. Há campanhas em todo o mundo restringindo o seu consumo, a sua propaganda, e parece que ninguém seria capaz de defendê-lo. Nick Naylor pode. Ele é um empregado da Companhia do Tabaco, um mega-conglomerado que é alimentado pela venda do tão famigerado produto.
Obrigado por fumar explora a situação inusitada confrontando o o corajoso defensor com os seus habituais inimigos: um Senador aficcionado pela campanha anti-tabagista, os jornalistas sedentos por matérias e os confrontos morais característicos da situação. Algum problema? Não! E é aí que o filme se diferencia.
Seria muito simples se Naylor passasse “para o outro lado”, dando uma lição de moral para o seu filho e para a sociedade. lindo. Podia acontecer também de ele ter um cancer, e virar mote para uma propaganda anti-fumo. Naylor sabe o que faz, usando o seu cinismo e retórica para falar o que quiser com coerência e convicção. Ele pode jogar dos dois lados, e a sua liberdade de escolha é a real mensagem1.

Obrigado por fumar (Thank you for smoking)
Estados Unidos, 2005
Direção: Jason Reitman
Duração: 92 min

1 – Não gosto de ditar qual seria a “vontade” do filme, pois penso que isso cabe ao expectador. Não entendam tal apontamento como uma posição inflexível. É só um vício…

Uma Outra História Americana

12 / Fevereiro / 2007
°°°°

Há algo de triste em Holden Caufield, ou melhor, algo deprimente, melancólico. Holden Caufield é o protagonista de O Apanhador no Campo de Centeio, um famoso livro do americano J. D. Salinger que descreve alguns dias na vida de um jovem que a princípio não tem nada de extraordinário. Nada, digo eu, em comparação com o amor de Werther ou a sandice de Dom Quixote. Caufield acaba de ser expulso do colégio e está numa fase impar na vida do jovem americano de classe média: Ou ele acaba o colégio e vai trabalhar numa dessas tantas lanchonetes e mini-markets ou ele peleja para entrar numa faculdade. Enfim, nas duas alternativas há o fim da adolescência à espreita. Escrito em 1951 o pequeno livro tornou-se clássico, sendo sucesso de público e crítica até então.
Aberto o precedente várias obras surgiram batendo nesta mesma tecla do cotidiano do jovem às portas da fase adulta. Talvez o protagonista de tal história deva mesmo ser sempro o jovem americano, para que possamos notar o contraste entre a onírica terra das oportunidades e a estafante vida real.
Pois então. Aí está a fonte para as desventuras de Enid (Thora Birch) na sua tediosa vizinhança. Como manda o figurino de Salinger Enid não é do tipo sociável. Ela tem uma amiga, Rebecca ( Scarlett Johansson), que sempre a acompanhou durante o Colegial, trocando confidências e fazendo tudo o mais característico de umpar de amigas. Findo o Colegial ambas decidem não ir para a faculdade. Rebecca logo arruma um emprego como caixa de uma lanchonete, Enid não sabe o que fazer.
Toda a sensação de melancolia está contida nesse momento, nesse ponto. Enquanto Enid persiste com o seu modelito punk desleixado, com botas enormes e meias calças extravagantes, Rebecca já usa roupas bem comportadas, trajes condizentes com as suas novas responsabilidades.
Ghost World é baseado numa história em quadrinhos homônima criada por Daniel Clowes, que também assina o roteiro do filme. A composição do filme é primorosa, contando com a excelente atuação das duas garotas e de Steve Buscemi (interpretando Seymour), uma cara bastante conhecida que dá um show de encenação nessa obra.

Ghost World – Aprendendo a viver (Ghost World)
Estados Unidos, 2001
Direção: Terry Zwigoff
Duração: 119 Min

Sessão Obrigatória

Sentinela do Abismo (Revista Discutindo Literatura)

9 / Fevereiro / 2007
Melinda e Melinda
°°°

Quem já assistiu a algum filme de Woody Allen já sabe o que pode esperar deste diretor e roteirista novaiorquino.
O filme começa num bar, onde se reúnem 4 pessoas, sendo duas delas escritores. Um destes escreve peças dramáticas, o outro escreve sobre comédia. Os dois iniciam uma discussão sobre qual é a melhor maneira de ver a vida, como comedia ou como drama?
Para ilustrar a sua opinião o escritor de peças dramáticas cria uma história protagonizada por Melinda (Radha Mitchell). Essa história é um drama romântico.
O outro escritor, o que vê a vida como uma comédia, se usa da mesma protagonista, Melinda (Radha Mitchell), para criar uma comédia romântica. Pronto… Essa é a raiz do filme. O interessante é que as histórias não tem linearidade. O filme passa e algo de uma história passa para a outra, o que muda é o objetivo de cada narrador.
O filme, em si, não é nada de mais… Há filmes de Woody Allen mais engraçados e mais dramáticos. O diferencial de Melinda e Melinda é o modo como ele é contado, e só.

Melinda e Melinda (Melinda and Melinda)
Estados Unidos: 2005
Direção: Woody Allen
Duração: 99 min

9 / Fevereiro / 2007
Rapsódia em agosto
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O filme se passa no Japão, no começo da década de 90. Quatro jovens estão passando as férias na casa de sua avó, que mora próximo a Nagasaki. A avó dos garotos é uma das poucas pessoas que sobreviveram à bomba atômica, e é essa (a bomba, não a senhora!) que é a personagem principal do filme.
As feridas causadas pela explosão são sentidas em todos os momentos do filme. O avô dos garotos morreu na explosão e a avó, por causa da radiação, perdeu um pouco dos cabelos. Percebe-se então que o “serviço” dos E.U.A foi bem feito.
O filme é cheio de mensagens, aconselho o artigo “Rapsódia em Agosto, uma canção pela paz entre os povos” para um aprofundamento.
Ah… outra coisa interessante no filme é ver Richard Gere falando japonês.

Rapsódia em Agosto (Hachigatsu no rapusodî)
Japão: 1991
Akiro Kurosawa

9 / Fevereiro / 2007
As luzes de um verão
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Certos filmes servem para que o espectador saia da sua realidade e seja transportado para outra área, tanto psicológica quanto fisicamente. Quem quiser ver um pouco do Vietnã deve assistir esse filme.
Em termos de trama, de roteiro, não há muito o que dizer. O filme gira em torno de um grupo de irmãos, sendo três mulheres e um homem. A irmã mais nova mora com o irmão, e as outras duas irmãs são casadas e cada uma tem uma vida estável junto da sua família.
Tudo muito comum, normal, se não fosse o fato do filme se passar no Vietnã. Podemos, a partir de então, contemplar os costumes e as paisagens do lugar. O filme tem uma boa fotografia que ressalta as cores e faz cada cena parecer uma paisagem. Os atores atuam de forma satisfatória, com exclusão de Tran Nu Yên-Khê, (que interpreta a irmã mais nova, Lien) que se destaca e, além do mais, é dotada de uma singela beleza.
Além do exótico há aqui um ponto muito interessante: a trilha sonora é deliciosa.Indico, para degustação, a música Pale Blue Eyes.

As luzes de um verão (À La Verticale de l’été)
Vietnã, França: 2000
Direção: Tran Anh Hung
Duração: 112 min

9 / Fevereiro / 2007
Nossa Música
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Este filme é muito propício para ilustrar a questão do cinema “alternativo”. É bom esclarecer que este alternativo é em relação ao cinema mercadológico americano, o cinema-produto, o cinema “sem alma”, mas não que todo o cinema americano seja assim. O fato é que Hollywood descobriu como “enlatar” o cinema e enriquecer com isso…. Então até hoje é odiada por ter sido bem sucedida.
O filme discute sobre a guerra, ou melhor, o ato de guerrear e suas implicações. Ele é dividido em três partes: inferno, purgatório e paraíso. A cena do inferno dura uns 10 minutos e é composta por cenas de guerra, morte, tiroteio, valas comuns, o terror da guerra acompanhado por algumas frases e peças musicais.
A seguir vem o purgatório. Essa parte é filmada na Sarajevo contemporânea e dura aproximadamente uma hora. Aí se encontra a parte mais densa do filme, com diálogos interessantíssimos e ásperos. Para se ter uma idéia o próprio Godard (que é o diretor do filme) aparece no filme, dando uma aula (muito interessante por sinal) sobre a relação da imagem com o meio. O tema central dos diálogos e de toda a discussão é a guerra, várias nuances deste fenômeno criado pela humanidade.
A parte final, o paraíso, mostra uma praia tranqüila, pacífica, onde as pessoas podem andar e brincar tranquilamente, despreocupadas, protegidas pela natureza, pelo azul do céu e pelas armas dos soldados americanos que a protegem…

“If you can understand what I’m saying, you’re not paying attention.”

Nossa Música (Notre Musique)
França: 2004
Diração: jean-Luc Godard
Duração: 80 min

8 / Fevereiro / 2007
O Fim da Ressaca
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Luis Fernando Veríssimo dedica um capítulo de seu delicioso Banquete com os Deuses. Pego carona nas palavras do irônico e sagaz literato quando ele descreve que todos temos um pouco dos Estados Unidos em nós, migalha esta trazida pelo cinema. Conhecemos as metrópoles, o trânsito, as paisagens americanas, tudo sendo administrado em pequenos closes, tomadas, tudo bem devagar. Em tempos de globalização ficamos mais íntimos ainda com a ajuda da internet, que invade nosso cotidiano. E não podemos esquecer das outras mídias, tais como a literatura, o jornalismo e a música.
Todo essa intimidade foi sentida no fatídico 11 de Setembro de 2001. Os ataques terroristas ocorridos contra o infalível Império marcaram a vida daqueles que desde sempre viu Nova York ser palco para tiroteios, fugas espetaculares, ações das mais variadas formas. Bem.. Nos filmes o pânico é de mentirinha.
Depois de cinco anos de ressaca o Império resolve remoer as suas mágoas, produzindo dois filmes sobre o tema que chegou a ser proibido de ser comentado, quando do início da crise. De supetão vieram dois filmes: As Torres Gêmeas e Vôo United 93. Sobre este último trataremos agora.
Da história não resta muito a ser acrescida, já que tudo foi discutido na época do evento, com os vários documentários, reportagens e livros em todo o centímetro quadrado do planeta. O vôo United 93 foi aquele que não conseguiu atingir os alvos programados pelos terroristas em virtude de um levante dos passageiros e depois caindo num descampado no estado da Pennsylvania.
O que a mídia não mostrou foi o que aconteceu dentro do avião, e agora podemos ter uma idéia destes momentos. A produção do filme teve contato constante com a família das vítimas, sendo tal ponto salutar. Foram as famílias que tiveram de ouvir por telefone os minutos finais, as despedidas e as decisões dos passageiros.
A realidade extraida das atuações é um trunfo da direção primorosa do também roteirista Paul Greengrass. Houveram truques como o de manter os atores que interpretariam os terroristas separados dos demais para que o impacto do sequestro fosse mais verossímil.
Pode-se dizer que agora as coisas estão no devido lugar: o que parecia filme virou filme.

Vôo United 93 (United 93)
EUA / Inglaterra / França: 2006
Direção: Paul Greengrass
Duração: 111 min

7 / Fevereiro / 2007
Como está fica!

A literatura está entrelaçada com o cinema de uma forma muito íntima. Afinal, durante a leitura de um livro, você não “constroi” um filme? Pois bem, apesar disso não há que se confundir as duas coisas.

É certo que há livros que rendem bons filmes, mas as duas artes não podem se confundir. Aqui já foi discutido esse assunto quando falamos da repercussão da versão filmada do best seller Código Da Vinci (aqui). Para resumir: Bons livros não são, necessariamente, bons filmes.
Os clássicos universais escapam da discussão por serem tão complexos e profundos que permitem várias interpretações e adaptações. Já os não tão clássicos correm o risco de se perderem, caso o acerto não seja imediato.
Marley e eu é um Típico Best Seller. Lançado em 2005 o livro liderou por algumas semanas a lista dos mais vendidos nos EUA. Quando traduzido para outras linguas (30 até agora) o livro começo a se tornar fenômeno mundial. A razão para tanto: texto rápido, sem muitos detalhes e com muita ação, e um protagonista carismático chamado Marley, um cão da raça labrador que era um péssimo exemplo, em termos comportamentais, mas, como os donos geralmente são dominados pelos seus cachorros, Marley era um amor mesmo quando rasgava todo o sofá da sala ou babava todo o carro do casal Jonh (o escritor do livro) e Jenny Grogan.
O que eu não quero, e essa opinião é mais embasada em sentimentos do que em razão, é ver este filme sendo anunciado, daqui a uns cinco anos, como atração da Sessão da Tarde. O livro é simples, aprazível de ler, especialmente para quem ama cães.

Sessão Obrigatória:

Dois primeiros capítulos do livro Marley & Eu

Blog do autor (John Grogan)